A PENA

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O filósofo, estadista e teólogo romano Boécio escreveu, no século VI, seu livro “A Consolação da Filosofia” na prisão enquanto esperava pelo cumprimento da pena de morte a que fora condenado. A chegada da morte pode nos fazer criar juízo, se interessar pelo que realmente interessa e até virar santo. O que não entendemos é o óbvio: todos nós recebemos à pena de morte. Não há um que já não esteja apenas esperando o dia. Ninguém sabe que dia é esse, mas a execução de tal pena é certíssima. Quando sentaremos em nossa cela e produziremos o nosso A Consolação da Filosofia? Pois bem, o livro que você escreverá ou o que eu escreverei, se escrevermos, não sei como será, mas o de Boécio é um dos melhores já escritos na história. Não é sem justiça que o livro está em toda lista de livros fundamentais que se encontre. Mesmo que as circunstâncias não fossem lá muito favoráveis para considerações filosóficas e poéticas, se ele tivesse toda a tranqüilidade sonhada, ainda assim, se produzisse um livro como aquele, já seria um feito maravilhoso. Mas, não tinha conforto nenhum, a morte já agendara O encontro e ele, escondido dos guardas, entre uma tortura e outra que sofria, escrevia uma das obras-primas da literatura mundial. Escrevia com originalidade, cuidado e métrica como se tempo lhe fosse matéria abundante. Entre a prosa e a poesia, mergulhando a fundo em questões essenciais da vida, escrevia sem tons de ressentimento ou tristeza, sem súplica ou proselitismo. Parecia que queria apenas escrever mais um de seus livros e não, como seria compreensível, para passar o tempo e se esquecer da morte que lhe esperava do lado de fora de sua cela. Perdoar-se-ia qualquer falha. Relevar-se-ia qualquer desafino ou falta de finesse, coisas para as quais um autor de prestígio deve sempre estar atento, afinal, o autor, no caso, era um moribundo que ali fazia, como os cisnes antes de morrer, seu mais lindo canto. Mas não há a menor necessidade de condescendência. A obra não nos pede nada. Nada nos deve. Nós é que seremos eternamente seus devedores. A Consolação da Filosofia, de Boécio, se encontra em catálogo, facilmente se a encontra nas livrarias, editado pela Martins Fontes, custa menos de 30 reais.  Livro para ler e reler. Livro para você responder de pronto quando alguém pedir uma indicação de leitura. Livro que você vai comprar uma dúzia para presentear. E, mais do que isso, livro que você vai querer decorar textos enormes dele. Livro que, depois da leitura, você estará engravidado(a) de uns poemas, ávido por ser capaz de fazer uma peça de teatro sobre ele, vai imaginar como seria um filme, vai querer compor uma canção, compor várias canções sobre os temas que propõe. E, principalmente, ficar com dor na consciência por agradecer a Deus pela condenação injusta que o autor sofreu, única razão do livro existir, se esquecendo que esta é uma das grandes especialidades de Deus: tirar do mal um bem tão infinitamente maior, a ponto de agradecermos pelo mal sofrido. O Livro!

3 Respostas para “A PENA

  1. Republicou isso em Adalberto de Queiroze comentado:
    TUDO que sabemos é: Um dia, morreremos. E o que fazemos quanto a isso? Muito pouco, quase nada. Neste post , César Miranda mostra ao Leitor(a) como Boécio escreveu, com profunda calma e tranquilidade, do fundo de sua cela , “sem súplica nem proselitismo” – um livro fundamental para todos os que amamos a Literatura e a Filosofia. E se por Boécio choramos, lembremo-nos com CM que “esta é uma das grandes especialidades de Deus: tirar do mal um bem tão infinitamente maior, a ponto de agradecermos pelo mal sofrido”. Eis porque César ousou dizer dessas “Consolações…”(Boécio): Eis o Livro! (com exclamação e tudo, sim senhores!).

  2. Pingback: Leveza e Esperança Cristã | Boécio e a Consolação da Filosofia, por César Miranda - Leveza e Esperança Cristã

  3. Se você veio do FB até aqui, por favor, faça-me saber.
    Eu tenho um presente pra você?
    Abraço fraterno do
    Beto, amigo e fã de Boécio e César Miranda.

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